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citação: Bachelard

Uma infância potencial habita em nós. Quando vamos reencontrá-la nos nossos devaneios, mais ainda que na sua realidade, nós a revivemos em suas possibilidades. Sonhamos tudo o que ela poderia ter sido, sonhamos no limite da história e da lenda Para atingir as lembranças de nossas solidões, idealizamos os mundos em que fomos criança solitária. E, pois, um problema real das recordações da infância, do interesse pessoal que temos por todas as lembranças da infância. E é assim que há comunicação entre um poeta da infância e seu leitor, por intermédio da infância que dura em nós.

Ao sonhar com a infância, regressamos à morada dos devaneios que nos abriram o mundo. É esse devaneio que nos faz primeiro habitante do mundo da solidão. E habitamos melhor o mundo quando o habitamos como a criança solitária habita as imagens. (...) A criança enxerga grande, a criança enxerga belo. O devaneio voltado para a infância nos restituí à beleza das imagens primeiras.

BACHELARD. A poética do devaneio, p. 95, 96, 97